Encher o tanque até quase transbordar ou rodar constantemente na reserva são hábitos extremos que não fazem bem à saúde do carro e também contribuem para elevar o consumo. "Essa prática danifica o cânister, que é filtro com carvão ativado responsável por reter os gases provenientes da evaporação do combustível. Esse filtro, geralmente localizado próximo ao tanque, é encharcado, perdendo toda sua eficiência", alerta Everton Lopes, mentor em tecnologia de energia a combustão da SAE Brasil.
De acordo com o engenheiro, os vapores que emanam do tanque são altamente tóxicos e poluentes - daí a importância de manter o cânister em bom estado. A orientação do especialista é parar o abastecimento assim que gatilho for desarmado - o que proporciona nível adequado e seguro. Mesmo sem encher "até a boca", rodar com o tanque na capacidade máxima reduz a eficiência do veículo. A explicação é simples: quanto mais peso houver a bordo, maior será a quantidade de combustível necessária para percorrer determinada distância. "A cada 100 kg, o consumo sobe 6%", informa Lopes.
Parece algo inexpressivo, mas é bom não esquecer que esse desperdício vai se acumulando com o passar do tempo. E o prejuízo também. Portanto, se você dá valor ao seu dinheiro suado, não vale a pena encher o tanque no circuito urbano - prefira fazê-lo somente em caso de necessidade, como em uma viagem mais longa. E sem pedir "chorinho" ao frentista.
Outro extremo não recomendado por Everton Lopes é deixar o tanque constantemente na reserva - o manual do proprietário de qualquer automóvel também condena a prática. Além do risco de pane seca, que pode causar danos mecânicos e, inclusive, rende multa de trânsito, o consumo também sobe nessa situação. "O tanque quase vazio significa mais espaço para vaporização do combustível. A taxa de perda por evaporação, portanto, sobe". A influência no consumo dificilmente será perceptível no momento, mas cobrará seu preço a médio e longo prazo.
Conforme mencionado acima, o vapor proveniente do tanque traz sérios riscos à saúde. Tanto que, a partir de 2023, começa a implementação gradual da válvula ORVR em todos os veículos flex e a gasolina vendidos no País. O equipamento bloqueia o retorno desses gases durante o abastecimento e os aproveita na combustão do motor.
Não bastassem o desperdício e a questão ambiental, abusar da reserva pode pesar muito mais no bolso. "Mesmo filtrado, o combustível fornecido pelo posto traz partículas que vão parar no tanque do veículo e depois ficam depositadas no fundo do reservatório. Com nível muito baixo, essas partículas acabam no filtro de combustível", explica Lopes. A sujeira acaba entupindo o filtro, causando perda no desempenho e forçando a bomba de combustível, que encontra maior resistência para enviar o líquido ao motor.
"Essa situação crítica sobrecarrega a bomba e causa sua queima. Mesmo se não houver entupimento do filtro, ela é projetada para estar submersa no combustível, integrada ao corpo da boia. Caso fique exposta, acaba superaquecendo e a chance de queima é elevada".